quinta-feira, 29 de abril de 2010

Gestos

várias interpretações , vários significados , vários pontos de vista , o meu , esse o meu que não é determinante , o meu que nao tem nem deve afectar um outrem . Tem o meu significado , a minha causa , a minha liberdade . Eu entendo-o , porque o fiz , entendo-o porque é parte de mim , não porque estou fora de assistir (..) Gestos são letras , palavras perdidas no tempo e na esperança . Gestos que valem mais que qualquer outra simbologia , que qualquer outra chuva. São gestos que nos marcam , que nos invadem por dentro da camisola , passando pela pele arrepiada e nos perfuram o peito . São gestos que nos fitam o olhar , a nossa esperança e saudade. São apenas gestos que fazem a diferença , no gigantesco mundo fanático que nos absorve .

terça-feira, 27 de abril de 2010

Angustia encantadora


Acordo subitamente, naquela manhã que vejo diariamente. Sinto o meu corpo humido e a minha cabeça parece rodopiar interruptamente. Pelos buraquinhos da persiana entram os feixes de uma luz, ainda timida, de um dia que promete ser alegre. Será mesmo? Nem um momento passou e, num abrir e fechar de olhos, começa a chover. O barulho da chuva preenche todo o meu quarto, e logo a vontade de correr para a janela se desvanece. Permaneço deitado na unica entidade que me consola, apesar de não passar de uma peça de mobiliário. Vejo passar cada minuto do meu relógio sempre na esperança de ve-lo correr mais depressa. Observo incompreensivelmente o branco do tecto, e rapidamente viajo numa reflexão que diariamente me acompanha, uma reflexão que deveria resolver as mil e uma coisas que me pesam e que não me deixam levantar. Num ciclo de pensamentos, surge um que todos os dias me faz levantar, quase repentinamente. O meu coração projecta no tecto uma imagem estranhamente fascinante. Transmite um sossego e uma tranquilidade estupendas, uma simplicidade unica, e transparece uma beleza confundivel apenas com a beleza da natureza. É a tua imagem! Num acto brusco e alarmante levanto-me, corro em direcção ao armário e procuro a roupa mais bonita e carismática que me emaranhe e me faça sentir num pedestral suficientemente alto que possa chamar a tua atenção. Desloco-me de forma tão elegante e tão certo das minhas decisões que o próprio vento faz questão de me levar ao meu destino. Chego tão entusiasticamente que deparo-me com o portão da escola fechado. Uma imensidão de pasmacidade invadiu-me, as pernas e os braços tremiam como se estivesse gelidamente numa arca. Sentia que estava num lugar que não era o meu, parecia que tudo estava descontextualizado, e imediatamente tentei perceber a situação. Ao fundo da rua, avistei um sujeito de capuz e bengala, deserguido perante a vida, que vinha no passeio contrário. Levantei o braço e, timidamente, chamei por ele. Uma, duas, três vezes! não obtive resposta. Quando se encontrava paralelamente a mim, o sujeito cruzou a rua e seguiu a minha direcção. Senti uma amargura tremenda da cabeça aos pés enquanto ele se aproximava. -Posso ajuda-lo? abordou-me serenamente o homem. Rapidamente voltei a ganhar consciência de mim e, friamente, perguntei lhe: - Tem horas que me diga? Um silêncio serrado e estranho abateu-se sobre nós e, finalmente obtive uma resposta. São 5 da manhã rapaz. E seguiu o seu caminho. De um momento para o outro a chuva intensificou-se, um vazio irrompeu por todo o meu corpo. Um sentimento de incompreensão e de angustia consumia-me! Perdi completamente o norte e uma imensa dor tomou posse de mim. Voltei para casa, cabisbaixo, encharcado da chuva e das lágrimas petrificadoras da minha tristeza. O meu consciente não aceitava os factos e, por mais que chora-se, a minha alma continuava suja. Enquanto a minha mente me culpava, o meu coração reivindicava uma culpa alheia, culpa essa inerente a uma paixão que há muito ansiava florescer. Era o amor, o culpado da minha dor e das minhas artrocidades. Voltei a deitar-me no consolo dos lençois que amarravam e amparavam a minha magoa. Ansiava desesperadamente pelo sono que, intimidado, fugia de mim. Olhei para o relógio, que contava 15 para as 7. Num demorado e progressivo reconforto, voltei a situar-me e o sono teve a cordialidade de me fechar os olhos. Não encontro a chave que te libertará do meu coração nem o argumento da minha própria razão. Será mesmo isso que procuro? Não sei. Sei apenas que sofro por ti, mesmo mostrando o lado risonho do sofrimento. Estou numa angustia encantadora, amarrado na expectativa, de poder fazer de ti, a mulher da minha vida.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Não há obstáculo que se oponha ao destino!



Sinto-me preso no meu proprio enredo, sem armas para escapar. Conto apenas com as minhas próprias forças. Onde estão elas? Estou sozinho, desamparado, frágil! Durmo sobre a minha própria consciencia, numa teia montada por mim sem saber por onde escapar. Olho para o céu e procuro a estrela mais brilhante, aquela que me dará o norte e me levará ao mar. Porque o mar? É no mar que procuro afogar os pensamentos e esperar que a brisa leve o inconsolável... mas não. A brisa faz questão de devolver, aquilo que eu quero esquecer. As ondas batem nas rochas tão intensamente como bate o meu coração. Procuro nas nuvens uma explicação, mas nem as nuvens me dão essa solução. Ali fiquei. Sobre mim a noite debruçava-se. Inquieto e fatigado, tento escutar o que o mar me diz, mas do mar ouvem-se apenas as frias e salgadas palavras de uma paixão à muito desvanecida. Debruço-me sobre a água na esperança de ver o meu reflexo. Mas não é o meu reflexo que vejo. Vejo sim o reflexo das estrelas, e numa constelação, vejo os teus olhos. Um calafrio percorre o meu corpo, que me faz gelar completamente! Não consigo desviar o meu olhar, algo me prende, algo não me deixa sequer respirar ! Subitamente deu-me uma vontade de mergulhar e nunca mais voltar. Lá no horizonte, uma luz intensa lança-se sobre mim! Estou completamente cego. Á memória vêm as recordações de uma vida a teu lado. De uma vida de prazer e fidelidade. De uma vida sublime, envolta em felicidade! Inesperadamente, a luz desvia-se para leste. Olho novamente para o reflexo dos teus olhos. Questiono-me com mil e uma perguntas, mas de nenhuma obtenho resposta. Sinto-me impotente e desvitalizado. Pelo meu rosto correm as lágrimas sedentas de angustia e inconformismo. Haverá esperança? Nem sei o que isso é. O meu coração projecta no olhar, uma paixão que não tem volta a dar. É o fim. Corro desesperadamente e, ao mergulhar, sinto que a água se tornou muito espessa e dura. Afinal tinha mergulhado na areia. Num ápice, olhei para o céu e procurei a razão do sucedido. Incrédulo, vislumbro apenas uma estrela, intensamente brilhante, que indicava uma direcção contrária ao mar. Diacrónicamente, do cimo das dunas ouço um chamamento timido, confundível com o som do mar. Mas ouço. Sigo então apressadamente, rumo à direcção inerente ao sussuro que ganhava cada vez mais força. Ao chegar perto das dunas, sobre elas nascia o sol, que me cegava fortemente e escondia de mim o que pela primeira vez me despertava curiosidade. Caio de joelhos, e coloco as mãos sobre a cara, e novamente as lágrimas escoam pelo meu rosto. Quando finalmente recupero a visão, eis que sobre mim, um vulto se sobrepunha. Senti um calor abrasador que me consumia inexplicavelmente. Num momento, senti poisar no meu ombro uma mão, como se de uma gaivota se trata-se, e que me arrefecia lentamente. Num acto brando e determinado, levantei a cabeça. Vi novamente os teus olhos, mas agora carregados de alento e ternura. Percebi progressivamente que estavas ali, mesmo à minha frente. Ergui-me perante a tua presença e, num acto de instinto e de compulsão, lancei-me nos teus braços e mergulhei nos teus lábios. Sabia que me estavas a conceder a oportunidade, não de refazer, mas sim de viver.

Vamos fugir da memória, seguir um novo rumo, construir uma nova história!